Conheça a história do Acolher Materno
Por Luciele Souza
O Acolher Materno nasceu em setembro de 2015, junto do nascimento da pequena Helena. Aqui me permito falar sobre a Helena e também sobre mim, sua mãe. Helena e eu fomos hospitalizadas, na cidade de Pato Branco/PR, quando estávamos com 27 semanas de gestação, e só saímos do hospital quando ela tinha 5 dias de vida. Ficamos quase 60 dias internadas e nesse período tive que lutar muito para que a Helena se mantivesse bem e seguisse se desenvolvendo dentro do meu útero. Foram dias intensos e muito desafiadores. Dias em que somente o amor e o medo que sentia, ao pensar que poderia perder a Helena, eram capazes de transpor as dores, a sensação de aprisionamento e a impotência diante daquela situação. Para mim, o que mais importava, desde o momento em que coloquei o meu pé dentro hospital, era ser o portal e o ambiente seguro para o desenvolvimento e a sobrevivência da Helena. Por mais que ao longo das semanas por vezes eu me visse sucumbindo ao cansaço físico, mental e emocional, o foco e o centramento se restabelecia ao lembrar da preciosidade de cada hora, cada dia, cada semana de gestação para a Helena. A vida estava parada para mim, para ela podia significar viver ou morrer. Quando me questionavam (sim, muitas vezes fui questionada) do porquê não fazia uma cesárea “pois já estava com 31 semanas e bebês dessa idade sobrevivem” eu pensava e falava: “Porque prefiro ser eu a sua incubadora”. E assim foi.
Não foi fácil estar numa cama de hospital recebendo medicação 24 horas por dia e não poder na maioria dos dias sequer levantar para ir ao banheiro. Contudo, estar ali – presa à uma cama – impotente, vulnerável e entregue ‘à sorte’, não foi a maior dificuldade. A maior dificuldade não foi a física e emocional, foi a de lidar com as demandas da instituição e com a assistência que recebi; foi a falta de empatia, de amor, de respeito às minhas necessidades, de profissionalismo que mais me sobrecarregaram naqueles quase 60 dias. Foram inúmeras as vezes que me senti desamparada, acuada, julgada e até pressionada por aqueles que me prestavam um serviço hospitalar. Senti na pele o que ainda hoje me é relatado em assistências: o despreparo, a impaciência, a ausência de coerência e uniformidade nas orientações clínicas, a falta de empatia e sensibilidade de muitos profissionais da saúde.
Por ter vivido uma experiência completamente diferente em 2013 – nascimento humanizado do meu filho Theo – e por ter estudado muito para poder viver essa experiência, eu sabia nomear aquilo que estava vivendo. Eu soube que estava sendo vítima de violência obstétrica quando a violência aconteceu, eu soube que estavam tentando fazer uma cesárea desnecessária no momento que a tentativa aconteceu. E foi muito difícil lidar com aquela certeza. Me agarrei a artigos, a profissionais de outros lugares do Brasil, para que não cedesse à pressão e ao meu próprio desespero. E isso movimentou em mim uma força que eu não sabia que existia, a força de querer fazer algo para que alguma coisa mudasse no cenário de cuidado materno infantil, especialmente os nascimentos, da minha cidade. Eu não achei justo viver a assistência que vivi e não me tranquilizava pensar que outras famílias viveriam aquilo também.
Viver experiências tão distintas, tão fortes e tão intensas, me mobilizou a lutar por nascimentos dignos e respeitosos. Nasceu junto com a Helena a necessidade de amparar mães e levar, para o maior número de pessoas possíveis, informações sobre a importância do cuidado, do respeito ao protagonismo da mulher, do amparo às necessidades individuais de cada família e, é claro, da urgência da humanização do nascimento e da atuação clínica baseada em evidências científicas.
Surgiu assim o nome que norteia todo o meu trabalho: Acolher Materno.
Missão Acolher Materno
Acolher a individualidade de cada mulher, auxiliando-a a viver a gestação, o nascimento e o pós-parto da forma mais leve, amorosa e respeitosa possível.
Política Acolher Materno
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- Ouvir sem julgar.
- Acolher os medos, as dificuldades e as fraquezas buscando auxiliar na superação.
- Auxiliar sem influenciar.
- Respeitar as individualidades de cada família.
- Validar e fortalecer a autonomia e protagonismo.
- Trabalhar em equipe.
- Valorizar e respeitar todos os profissionais envolvidos na assistência.
- Guiar-se pelas evidências científicas.
- Trabalhar de forma responsável e comprometida com o bem-estar físico e emocional da mulher e do bebê.