Relato: Nascimento do Theo – Parte 1

Antes de ler este relato de parto, escrito em 2014, sugiro que leia o post “Como conheci a humanização do Nascimento

Antes do Theo, nasceu a Naiara

Hoje, depois de quase 6 meses de parida, sento para escrever o relato de nascimento do nosso menino THEO.

Seria mais prazeroso escrever somente como foi recebê-lo e também falar sobre o quão gratificante e poderoso foi sentir ele saindo de mim, sentir seu corpinho nos meus braços e tê-lo comigo como sonhei. Acontece que eu não teria viajado 750 km para parir se não carregasse comigo uma história de muita dor.

É essa história – do nascimento da Naiara – é que precisa ser parida nesse momento.

Para mim, é claro que só vivi com o Theo o que vivi, por ter vivido com a Naiara o que vivi.

Gestando e ‘parindo’ a Naiara

A descoberta da Gestação

Em 2007, longe da família, do esposo (na época noivo), no início da graduação e em meio a uma turbulenta e embaraçosa história de dores e ovários policísticos, descobri que estava grávida. Até ali ótimo. O ‘susto’ foi grande, mas a benção ainda maior, afinal eu mesma pedi aos céus que me mandasse um filho -um milagre na minha concepção- mas não permitisse que eu perdesse os ovários, pois o desejo de ser mãe era muito grande.

A gravidez

Durante toda a gestação, não me preocupei em pesquisar sobre parto, cesárea ou quetutes relacionados ao assunto, achava eu que o que deveria/me cabia era fazer o pré-natal, acompanhar o crescimento e bem estar do bebê, arrumar o quartinho, as roupinhas e pensar nos cuidados do bebê (essas coisas que toda grávida acha que é importante).

O parto seria uma etapa, apenas uma etapa, e só. Ponto.
Jamais me passou pela cabeça, ou sequer ouvi falar sobre a importância de estar informada e preparada para esta, até então, simples etapa.

Aliás, em NENHUMA consulta, a médica que acompanhava minha gestação falou sobre parto. Na única vez que conversamos sobre o assunto, ouvi que era cedo para discutirmos e que tínhamos que ver como transcorreria a gestação.

Claro que eu, assim como qualquer gestante, me pegava imaginando como seria o dia em que minha bebê nasceria, como seria seu rostinho, se ia ter cabelinho ou não, se ia se parecer com alguém ou não … sentia aquela ansiedade que toda de grávida de primeira viagem tem. No meio desses sentires existia algo bem grande: o desejo de que ela nascesse bem e de forma SEGURA.

Naquelas alturas eu desconhecia que havia “Formas de Nascer” distintas. Para mim, se tudo estivesse bem e a mãe tivesse condição física de ter o bebê, ele nasceria de parto vaginal, se houvesse risco materno ou fetal, de via cesariana.

Confesso que tinha muito preconceito com o dito Parto Normal. Cresci ouvindo da minha mãe que ela foi para o hospital perdendo líquido, que permaneceu lá por muitas horas “sem dor de parto” até o momento que o médico se deu conta que ela estava com infecção e que nós duas podíamos morrer. Momento este que ele decidiu intervir. Segundo ela, “por um milagre” e depois do meu pai ter optado pela vida dela (sim, o médico disse que dificilmente conseguiria salvar as duas -eu e minha mãe- então meu pai deveria ‘escolher’ qual das duas salvar) ela tinha sobrevivido e de brinde -eu-. Tudo graças a Cesariana.

Além da história quase trágica da minha mãe (que na segunda gestação já marcou com antecedência -por indicação médica- a cesárea) eu também ouvia “a fulana teve o bebê tirado a ferro” ” a ciclana quase morreu” “o bebê da outrana passou da hora e morreu” , ou seja, nada em momento nenhum me fez pensar que parto normal era bom. Todas as histórias que eu conhecia permeavam minha cabeça como uma sirene, alerta, com medo. Sentia medo do meu bebê também passar da hora, também precisar ser tirado a ferro ou eu também vir a morrer durante o trabalho de parto. Graças a este medo, não medimos esforços para que eu conseguisse uma obstetra que fosse ‘bem vista’ aos olhos da sociedade, pagamos todas as consultas e fizemos todos os exames solicitados -mesmo que isso colocasse nosso equilíbrio financeiro em risco-.

Em todas as consultas a obstetra auscultava o coração da bebê, media a altura do útero, olhava os seios, -SEMPRE- fazia toque e pedia exames de rotina ou algum que ela julgasse necessário.

Eu confiava plenamente na minha médica. Achava que ela estava fazendo tudo ao seu alcance para meu bem estar e também pelo bem estar da bebê que eu estava gestando.

A gestação foi tranquila e assim consegui manter o ritmo na faculdade (cursava Medicina Veterinária) até o último mês. Quando então, em uma consulta de rotina, a médica observou que eu estava tendo contrações, me pediu se eram frequentes e eu disse que sim. Ela me disse que aquilo não era bom e eu devia ficar atenta, pois podiam se intensificar e eu acabar tendo um parto prematuro. Eu já estava com 36 semanas de gestação.

Receitou-me medicação e repouso. Eu como boa paciente cumpri à risca o recomendado.

Passaram-se alguns dias e as contrações se intensificaram.

Estava com 37 semanas a caminho das 38, segundo os exames de ultrassom, quando preocupada liguei para o consultório para pedir ‘socorro’, já que não tinha dormido direito e estava sentindo cólicas e contrações.

Fui atendida no meio da tarde do mesmo dia. Como de costume a médica fez um toque, só que desta vez o veredicto foi: “Ai ai ai … senti os cabelinhos! Você está com dois dedos de dilatação! Vai nascer hoje!”.

*Hoje, com conhecimento, me pergunto: que cabelinho foi esse que ela conseguiu sentir, se eu estava com a bolsa integra (a bolsa não tinha rompido)?! Concluo: ela mentiu.*

Ali, naquele momento, o coração palpitou.

Como assim vai nascer hoje? Eu me perguntava. Assim no susto??! Eu emudecida pela surpresa, fui encaminhada ao banheiro para vestir minhas roupas e aí então conversar com a médica que me explicaria toda aquela situação.

A Cesariana

Já frente a frente, eu e a obstetra, fui informada que estava entrando em trabalho de parto e que possivelmente pela madrugada minha bebê nasceria de PARTO NORMAL, mas … (aqui o ‘pulo do gato’) ela (Naiara) estava vindo antes do tempo, o parto podia demorar, eu era pequena e isso dificultava a passagem do bebê. Nada favorecia o parto e por isso tudo ELA ACHAVA melhor não esperar e fazer logo uma cesárea.

Eu escutava tudo aquilo ainda sem condição de raciocinar. Eu que estava condicionada a ouvir apenas: “Está tudo bem! Tudo certinho, colo está fechado, bem bonito, seu peso está ótimo, está de Parabéns!”. Eu ali, me perdi.

Bom, digo eu, se a doutora acha que é melhor, tudo bem! Não quero correr risco. Esta foi minha resposta frente aquela situação.

Quem era eu para achar alguma coisa, não é mesmo?! Além disso, na hora me pareceu uma boa solução, afinal de contas eu via o Parto como algo ARRISCADO. Mães morriam durante o trabalho de parto, bebês também. Já de cesárea não, nunca ouvi uma história sequer, em que uma mãe morreu ou o bebê teve alguma complicação.

No intuito de descontrair a obstetra disse-me que seria um belo dia para nascer, dia 03/04/08, até combinava. Disse ainda que “tudo iria correr bem e eu não precisava me preocupar que em poucas horas tudo estaria resolvido”.

Fui encaminhada por sua assistente até a recepção para conversar com a secretária, para que a mesma -que conhecia todos os procedimentos- me levasse até o hospital que ficava no outro lado da rua (minha médica era a diretora lá). E assim foi.  A secretária me levou até o hospital, auxiliou com o preenchimento da ficha de internamento e por fim encaminhou-me até o quarto.

Já no quarto -sozinha-, fiquei -preocupada- esperando a hora da ‘bendita cesárea’.

A esta altura eu estava totalmente atordoada. Pois tinha ido para uma consulta e voltaria para casa com o bebê nos braços.  Meu marido (que havia vindo de Cuiabá onde morava/trabalhava para Curitiba para aguardar a chegada da bebê) corria para casa para buscar as roupinhas, os documentos e -claro- o dinheiro para pagar pelo internamento e procedimento cirúrgico. E eu, lá no quarto, sozinha.

Lá pelas tantas veio uma enfermeira. Pediu-me para tirar a roupa e vestir um roupão cirúrgico, todo aberto atrás, iríamos para o centro cirúrgico. E assim foi. Deitei sobre uma maca e ela me pediu para girar o corpo e permanecer deitada de lado, enquanto ela (enfermeira) e outra colega me empurraram até a sala de cirurgia. Ali, deitada, à sensação era de solidão e despreparo.

Eu me sentia sozinha e perdida.

Parecia que me levavam para um abate. O corredor era gelado, eu tremia mas não sabia se era medo, se era de frio mesmo, se era vergonha por alguém estar vendo meu bumbum (que eu não conseguia saber se estava de fora ou não) ou se o que eu sentia era reflexo do susto e por não ter digerido a ideia ainda.

Enfim chegamos na sala de cirurgia.

Para mim, aquela ‘voltinha de maca’ durou uma eternidade. Lá, mais uma vez, fiquei sozinha esperando que aparecesse o anestesista. Pouco tempo depois, em meio às luzes e o ambiente frio da sala cirúrgica, chegou a equipe que me prepararia para a cirurgia.

Começava ali a mais longa viagem até ter minha filha nos braços!

Pediram-me para sentar e me dobrar/curvar para que conseguissem aplicar a anestesia. Esse processo é algo extremamente desagradável. Como se curvar com tanto medo, com frio, com aquele barrigão e com pressão psicológica? Sim, disseram-me que precisava ficar bem curvada e que não podia me mexer em hipótese alguma, pois estava sujeita a uma lesão na medula (ficar paraplégica -definitivamente- não me pareceu uma boa ideia). Nisso uma enfermeira fez força sobre minhas costas para garantir a curvatura necessária e também como forma de me imobilizar para que o procedimento pudesse ser feito.

Aquela agulha entrando na minha coluna é algo que jamais esquecerei, simplesmente horrível.

Anestesia feita, deitaram-me rapidamente sobre a mesa cirúrgica e aos poucos eu perdia a percepção das pernas. Neste momento levei o ‘primeiro puxão de orelha’. Eu testava o que estava acontecendo (amortecimento) quando sem a mínima sensibilidade me disseram que se eu continuasse mexendo as pernas iria cair no chão, pois “tinha um buraco na maca”.

Mais um susto para contabilizar. Afinal, pense eu caindo com aquele barrigão no chão. Claro, precisavam me assustar para garantir que na hora do ABANDONO a louca não resolvesse querer levantar e cair, de fato.  E assim foi. Assustei-me, e como um animal acuado, permaneci quieta e imóvel, enquanto eles saiam da sala e eu ficava ali aguardando a chegada da obstetra.

Creio que foi rápido, mas para mim pareceu uma ETERNIDADE.

A obstetra apareceu, o anestesista já havia voltado, e toda a equipe enfim estava ali para dar andamento ao processo. Eu, o objeto, ali disponível. Meu marido depois de tudo encaminhado foi -enfim- ‘liberado’ para entrar na sala. Ele acompanhou tudo e até fotografou. Não sei quanto tempo durou a cesárea em si, sei que foi rápida, tão rápida que não processei NADA!

Em meio a puxões (parecia que eu ia cair daquela mesa a qualquer momento) e conversas paralelas (fizeram o procedimento como se estivessem num churrasco entre amigos), nascia a Naiara.

Ela nasceu e no momento que chorou, eu também chorei.  

Chorei umas lágrimas doídas. Eram lágrimas de alívio por ela estar viva e bem (afinal ela era prematura -outra mentira que acreditei por anossss). Eram lágrimas de alívio porque logo tudo iria acabar.

19h30min do dia 03 de abril de 2008

Neste dia e nesta hora nascia nossa princesa. Atrás daqueles panos azuis a única coisa que sabia é que ela, Naiara, estava bem. Que tudo correu dentro do esperado e que seu nariz estava amassado. Pois no momento em que foi tirada de meu ventre logo ouvi da obstetra: “Nasceu com o Narizinho todo amassado de tão encaixada que estava!”.

Certamente, este foi o motivo de quase me arrancarem daquela mesa para ‘sacá-la’ de dentro de mim.

Meu marido, hoje, compara o nascimento do bebê por via cesariana como “arrancar um pé de mandioca”. Quando ele fez esta analogia concordei veementemente, pois senti isso na pele. Eu sendo a terra e alguém arrancando à força um pedaço de mim. Simples assim.

Depois que clampearam o cordão a levaram para fazer os procedimentos de rotina (muitos deles desnecessários, mas só hoje sei disso), enquanto eu, atrás dos panos azuis, só ouvia seu choro e barulhos de “aspirador de pó”. Estavam aspirando meu sangue e verificando se não havia hemorragia para então concluir a cirurgia.

Disseram-me: Logo logo vai ver sua bebê.

Realmente. Logo depois a trouxeram embrulhada em panos e eu de longe olhei seu rostinho. Eu estava com as mãos amarradas e por isso não consegui tocá-la, apenas a ‘espiei’ e mesmo assim só a face.

Tudo estava frio. Inclusive meu coração. Olhei e pensei: Nossa, é feinha. Dei um sorriso forçado para a foto e a lágrima que me escoria pela face era ‘estranha’, estranha como tudo aquilo que acontecia à minha volta.

Foto do momento que me apresentaram a Naiara

A levaram para o berçário. Precisava “ficar quentinha” e ali junto de mim não era o melhor lugar para ela naquele momento. LEVARAM-NA. Primeiro tiraram ela de mim, depois a levaram de mim. E eu? Como fico?

Fico ali. Esperando que finalizem os pontos e rezando para que tudo acabe logo. Acabe para que, enfim, eu possa conhecer minha filha decentemente. Para que possa lhe dar aquele beijo guardado por tantos meses. 

Terminaram o procedimento cirúrgico.

A esta altura só estavam na sala, a médica e a auxiliar. E tão logo não estava mais ninguém. Ninguém que eu conhecia. Estava eu, sozinha, aguardando alguém para me levar até o quarto. Logo apareceu alguém para organizar a “bagunça” do centro cirúrgico. De longe eu observava um amontoado de panos com meu sangue, um vidro com muito sangue dentro (era o vidro do “aspirador de pó”). Parecia de fato um abatedouro. Um lugar triste e frio.

Chegou a minha vez! Depois do “1, 2, 3” de duas enfermeiras, me jogando da mesa cirúrgica para a maca, fui levada para o quarto. Agora, parece que tudo havia terminado. Iria, eu, enfim reencontrar minha amada Naiara.

Já no quarto, depois de mais um “1, 2, 3 ” me transferiram da maca para a cama. Sim, você depende de outros para tudo e não pode sequer cogitar a ideia de levantar a cabeça.

E a Naiara cadê? Esta foi a pergunta que fiz. Cadê a Naiara.
Disseram-me que ela ainda estava no bercinho se aquecendo e logo a trariam para que eu pudesse amamentar.

As horas passaram e eu ali esperando.

Esperando… esperando…

O Diego se acomodou em um sofá no quarto e acabou adormecendo. Porém seu sono foi interrompido inúmeras vezes por meus chamados e resmungos/reclamações (eu estava muito agitada e nervosa). Precisava saber o que acontecia com nossa pequena. Por que ela não estava conosco como prometido? Algo não devia estar bem.

Ele ia até a sala do tal bercinho e voltava dizendo que estava tudo bem.

Como assim tudo bem?? Se estivesse tudo bem ela estaria comigo, não?
E assim a noite passou. E eu passei a noite em claro. Não consegui dormir. Não consegui descansar. Eu chorei, sofri calada, minha alma doía, uma dor que não se explica, só se sente

Senti muita raiva do marido. Como ele conseguia dormir naquela situação, como ele não dava um jeito de trazer minha pequena para mim, eu precisava ver ela.

Só fui vê-la perto das 8 horas da manhã.

Foram mais de 12 horas de espera, tristeza, aflição e preocupação.
Aquilo me destruiu.

Fiquei odiando o marido (a gente sempre encontra um culpado), e sem nenhum vínculo com aquela bebê. Não parecia ser eu quem tinha gerado aquele ser.

Lembro nitidamente da cena, a enfermeira entrando com aquele bebezinho embrulhado em alguns cueiros e eu olhando e perguntando mentalmente ao marido, se era mesmo aquele bebê a nossa Naiara.

Eu não conhecia, não reconhecia, não amava.

A enfermeira mostrou a pulseira com meu nome e disse: Mamãe vamos tentar dar peito para ela?! Tentamos, apenas tentamos. Foi frustrante. Ela não tentava sugar, estava sonolenta, não sabia que aquilo (meu peito) era fonte de alimento. Ela também não me conhecia, não me reconhecia.

Momento que colocaram ela no meu peito para mamar


A partir dali a Naiara ficou conosco. O coração foi se acalmando e eu tentando ser mãe.

Mais tarde chegou a hora de levantar e ir ao banheiro tomar banho. O que foi aquilo?! A sensação foi horrível! Parecia que meus intestinos iriam cair ao chão. Tinha, eu, perdido totalmente a percepção do corpo. Estava me apresentando a mim mesma, e isso foi só o começo de uma longa “novela”. 

Capítulos recheados de dificuldades com a amamentação e cuidados com um recém-nascido viriam pela frente.

Precisava e tinha a obrigação de atender um serzinho que dependia quase que exclusivamente de mim, sendo que eu mal conseguia comigo mesma.

Eu não me sentia bem, não estava feliz com o marido, ainda não amava aquele bebê. Não amava como imaginava amar. Não amava como queria amar. Parece que faltava algo. 

Aquele desgosto só aumentou meu estresse e a dor. Dei graças a Deus que minha mãe veio para me atender e eu pelo menos me via “livre” do marido. Como podia aquilo? Eu não o queria perto de mim, pois parecia que todo aquele sofrimento era culpa dele.

Saímos do hospital e tudo foi “melhorando”. Literalmente melhorando entre aspas! Porque minha recuperação foi péssima! Eu sentia muita dor no local onde foi feita a cirurgia. Fiquei andando como um robô por 10 dias. Tinha dificuldades para tomar banho e não conseguia sentar direito para amamentar.

Amamentar! Ô coisa TRISTE! A amamentação virou um pesadelo, pois como não conseguia sentar direito e sentia dor, não conseguia segurar a bebê direito no colo para amamentar. Barriga inchada, dolorida… definitivamente a cirurgia não colaborava nem um pouco com a amamentação. 

Ali, dentro de mim, se instalava uma tristeza sem explicação, um “ódio” mortal do marido, uma vontade de não amamentar, uma dor profunda.

Uma DOR DE ALMA! Uma dor que ninguém vê, uma dor que só se sente! Algo confuso. Acabei atribuindo aqueles sentires ao fato de ser mãe de primeira viagem, de não saber como lidar com tudo aquilo, me vi “obrigada” a se abraçar com o conformismo, com a própria cruz, e seguir em frente.

Precisamos seguir em frente, não é mesmo??

E assim foi. O marido foi embora, pois tinha que voltar ao trabalho, e ficou somente minha mãe me cuidando. Dei graças a Deus ele foi, e com ele foi parte da minha DOR. Afinal ele também era culpado né?

As coisas foram melhorando e eu me adaptando e aprendendo a amar cada dia mais aquele ser. Ela, a Naiara, aos poucos virava minha filha. E eu, virava Mãe. Aos poucos aprendia a ser mãe e amar um filho.

A dificuldade foi passando e depois de muitos dias eu já conseguia tomar banho decentemente e também me sentar sem que a cirurgia fosse mais uma martírio na minha vida. O tempo se encarregou de ir amenizando as coisas e eu fiquei apenas com uma lembrança ruim guardada no “baú do esquecimento” onde a gente guarda tudo que não faz bem.

Até que… decidimos ter outro filho. Ter outro bebê sempre esteve na “contabilidade”. Quando ele viria era a incógnita. O marido começou a desejar sua vinda e dizer que já estava na hora. Dentro dele (marido) o desejo nasceu e foi crescendo na medida em que começou a conviver com a Naiara.     ** Explico: Continuei a faculdade em Curitiba e ele continuou morando/trabalhando em Cuiabá. Assim permanecemos por mais de 3 anos, até que ele conseguiu transferência e veio morar junto da gente. Então ele não pode acompanhar a gestação e os primeiros 2,5 anos da filha de perto, pois nos encontrávamos em média 1 vez ao mês.

O desejo veio e aos poucos fomos (o marido mais) amadurecendo a ideia. Eu sempre dizendo: Sim vamos encomendar! Brincava, mas aderir à ideia, de fato, ainda não tinha aderido. Até que percebi que eu brincava, ele ria, mas no fundo o negócio já estava sério.

Eis que um belo dia, depois de me ver tomando anticoncepcional, fui questionada: mas você ainda está tomando???  Eu: Sim! Mas eu paro hoje mesmo se é isto que você quer. Ele: mas estou dizendo faz tempo que quero! Você que tá enrolada. De fato eu estava “enrolada”, pois mal tinha acabado a faculdade, ainda não estava trabalhando e não me via com outro filho naquele momento. Fui “convencida” de que se não estava trabalhando, poderia estar gestando, já que podia “aproveitar o tempo” pois estava estudando para concursos… “apenas”.

Aceitei o desafio e parei de tomar o anticoncepcional naquele dia. Parei, e acredito que engravidei no mesmo dia. Pois não menstruei mais e em poucos dias descobria que estávamos GRÁVIDOS. Sim, rápido assim, acho que deus mandou logo, antes que eu mudássemos de ideia… (risos).

Até aqui ótimo! Estava feliz, pois estava grávida e iria ter um segundo filho. Iria “contentar” o marido e iria dar um irmão(a) para a minha princesa Naiara.

Aquela situação era muito radiante. Até que … a euforia deu tchau e cai na realidade. Junto da realidade veio a preocupação e os medos.

Sim, por mais que acreditasse estar preparada e quisesse aquilo, assim que se tornou REAL, bateu aquele frio na barriga. Pois bem … estava eu, com o corpo congelado, não só a barriga. E logo eu descobriria o porquê.


O melhor tapa na cara que a vida podia me dar

Mal imaginava eu que aquele frio todo existia não só pelo fato do desconhecido, mas porque tudo o que estava no “baú do esquecimento” aflorava, gritava, esperneava dentro de mim.

Eu só me dei conta do tamanho do trauma que carregava, quando em um passeio virtual pelo feed do Facebook me deparei com a foto de um NASCIMENTO que saltava da tela do computador para dentro dos meus olhos e da minha alma!

Sabe quando você olha, olha de novo, olha e olha?? Olha e se choca?! Aquele momento que o coração palpita, escorre uma lágrima para dentro e outra para fora?? Sim, estava eu CHOCADA e emocionada. Não só porque a imagem era linda, mas porque ela era real, “palpável” (não era coisa de filme ou ficção científica). Era uma mulher linda, RECÉM-PARIDA!

Era uma mãe, um bebê recém-saído do ventre, um pai emocionado. Uma mãe abraçada ao seu filho logo depois do nascimento, uma mãe em prantos. Mas era um choro LINDO! Bemmmmm diferente do meu no dia do nascimento da minha filha.

A mulher da imagem era a cunhada de uma colega da faculdade. Fiquei ali pasma, olhando.

Levei -naquele momento- um choque de realidade. Um tapa na cara. Como assim? Isto existe? Existe Parto Vaginal Feliz? Com mãe irradiando amor, com pai emocionado, com filho nos braços e na ÁGUA? Aquilo era muito para mim. Em que mundo eu vivia?? Choquei.

Era “muito” para alguém que lidava com a ideia de que teria mais uma cesárea, mais uma experiência triste. Sim, porque que seria triste eu não tinha dúvidas, e que seria cesárea também. Ora, assim como acreditava que todo parto era coisa arriscada, de louca, de pessoa que não tinha condição de pagar pela cirurgia, eu também pensava que: uma vez cesárea, sempre cesárea! Não é esta a regra??

Mas… a gente cresce, e deixa de ser besta amadurece. Para isto servem as dores da vida.

Ao invés de fechar a tampa do baú do esquecimento, eu estava a fim de descobrir tudo o que se escondia lá dentro. Queria conhecer. Conhecer para curar, conhecer para me oportunizar a viver diferente. Queria ser a protagonista da história dessa vez.

Iniciava ali a busca por um PARTO.

Era chegado o momento de estudar, quebrar mitos, sofrer com o meu eu, mas acima de tudo buscar uma alternativa diferente, baseada em fatos, em evidências científicas. Eu QUERIA aquilo para mim. Queria segurar meu filho nos braços daquele jeito, eu queria sentir seu corpo, sentir seu cheiro, queria SENTI-LO meu. Meu, como sempre foi.

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