Relato: Nascimento do Theo – Parte 2

Sabe aquelas pessoas que dizem: Sou do tipo que dou um boi para não entrar numa briga, mas se entrar, dou a boiada inteira para não sair?… Então, acredito que eu seja bem este tipo de gente!

Eu queria saber TUDO sobre este negócio de parto, parto humanizado, benefícios para mãe, para o bebê, situações em que a cesárea é de fato necessária, relatos de mães que passaram por processos semelhantes ao meu, entender o pós-parto que vivi com a Naiara e desejava absurdamente encontrar uma forma de passar por aquilo tudo de forma mais leve, mais preparada, mais feliz, mais satisfeita.

Graças à disponibilidade e comprometimento social de algumas mulheres, engajadas na luta do “nascer com amor”, em doar conhecimento e compartilhar suas experiências, encontrei as informações que precisava com certa facilidade.

De posse de informações e certa do que desejava para mim e minha família, consegui traçar caminhos de estudo e entendimento.

*** É bizarro, digo, vergonhoso, uma gestante precisar se munir de muita, muita e muita informação para não ser enganada por um médico. Médico de um sistema doentio. ***

Li muito e me encantei ainda mais com aquele mundo “paralelo”. E sonhei. Sonhei alto! Queria parir com respeito, queria viver tudo aquilo que não vivi com a Naiara, porém sabia que não conseguiria ter o que desejava na cidade de Pato Branco.

Aqui NÍNGUEM sabia o que era Doula, o que era parto humanizado.

Aliás, era evidente o desconhecimento das evidências científicas relacionadas a assistência ao parto. O uso de ocitocina de rotina, empurrar a barriga (kristeller), cortar a vagina (episiotomia), deixar a gestante de jejum, mandar a gestante não gritar e fazer força (manobra de valsalva), aspiração do bebê de rotina, uso de nitrato de prata de rotina e por ai vai … era tudo o que se tinha. Era esse o modelo vigente de assistência.

Onde eu estava tinha tudo o que eu NÃO queria viver!

Não ter o que se precisa, não significa não poder viver o que se deseja, certo?! Eu acredito que PODEMOS construir um novo caminho. Escolhi construir o meu.

Diante do que já tínhamos vivenciado, não precisei de tanto esforço para mostrar ao marido o que significava para mim viver a recepção do Theo de maneira diferente. Velho ditado: Contra fatos não há argumentos. Ele sabia tudo o que vivi, embora não tivesse se dado conta do impacto negativo que aquela cesárea trouxe para o meu puerpério e muito menos para a nossa relação afetiva e de recém-pais. 

Informado e consciente ele passou a sonhar meu sonho, sonhamos juntos.

Planejamos um parto assistido por um obstetra humanizado e acompanhado por doula. Contratamos a Cris como Doula com menos de 12 semanas de gestação e fomos até Florianópolis com 23 semanas para conhecer dois obstetras (escolhidos pelos relatos de parto e avaliações positivas de outras mães).

Fomos recebidos, por ambos, com muito carinho e respeito. Ficou evidente que de fato a assistência era outra. Enquanto em Pato Branco eu já tinha ouvido de um profissional que não tinha como ter parto normal depois de cesárea e que minha vagina era muito estreita para parir, em Florianópolis fui acolhida, compreendida e por ambos fui estimulada a viver o que desejava.

A obstetra que escolhi foi a Roxana Knobel, pessoa encantadora, simples e séria. Uma profissional convicta, segura e sem medo de falar que meu pré-natal estava ruim. Foi fácil perceber que seu comprometimento e assistência eram voltados para a paciente e não para a agenda e/ou colegas de trabalho. Além disso, ficou evidente o quanto acreditava na capacidade que nós mulheres temos de gerar e parir.

Durante a consulta ouvimos uma frase certeira: “Pois bem, não posso garantir que vocês vão ter o parto que tanto desejam, mas posso garantir que não farei uma cesárea desnecessária, então, se vocês desistirem e quiserem uma cesárea vão precisar procurar outro obstetra”. Palavras sinceras e firmes, e naquele momento era tudo o que precisávamos ouvir. Ficou fácil escolher! Seria ela nossa médica, ponto.

Obstetra escolhida, doula contratada, um grupo lindo de apoio (formado por doulandas da Cris), marido feliz, eu feliz, apartamento alugado (depois de uma busca árdua e salgada), muito amor, muito tudo certo e ‘perfeito’ até as 29 semanas.

Com 29 semanas incompletas entrei em trabalho de parto prematuro. TUDO estava indo por ralo abaixo! Meu sonho, meu desejo, nossos planos …. Mas muito mais que isto: estive à beira de perder meu bebê ou na melhor das hipóteses ter um parto prematuro e um filho numa UTI por muito tempo.

Nestas horas a vontade que dá é a de olhar para os céus e gritar: por que comigo? Logo agora que estava indo tudo bem, que nos dedicamos tanto, que tiramos dinheiro de onde não havia, que enfrentamos todos que nos chamaram de loucos…

Sorte que junto desta vontade de murmurar negativismo, veio a fé. Fé de que tudo daria certo. Veio a aceitação. Tudo bem se nosso sonho de parto não vingasse. O que queríamos antes de tudo era um bebê saudável, o resto resolveríamos depois.

Fiquei uma semana internada, um bom tanto de medicamento, repouso absoluto e revertemos a situação. Para a Felicidade e surpresa do médico, recebi alta e fui para a casa de minha mãe para poder repousar. Os ventos pareciam estar soprando a nosso favor. Mantivemos o foco: “segurar” aquele bebê.

Não abandonamos o sonho, nem tinha como, pois já estava tudo contratado, tudo parcialmente pago. A nós cabia, apenas, ter esperança. Esperança do bebê se acomodar e talvez retomarmos os planos de viagem. Eram 750 km de percurso até Florianópolis, uma viagem longa e que só poderia ser feita se de fato estivesse tudo muito bem.

A cada dia, a cada semana que ganhávamos com o bebê no casulo era comemorado, as 32 semanas chegaram e junto dela meu coração começou a se acalmar, pois se ele resolvesse me assustar mais um tanto, já estava mais apto a nascer. Que alívio.

Voltamos a sonhar com o parto e decidimos aguardar até as 35 semanas, se chegássemos nesse marco saudáveis -e bem – iríamos antecipar a viagem (o plano inicial era viajar com 36 completas).

E chegamos lá! Firmes, fortes, 35 semanas, malas prontas, muito amor e empoderamento, seguimos rumo a Florianópolis. Eu, Theo no casulo, Naiara, o marido e uma mudança.

Quase chegando no destino, já no fim da viagem, as contrações começaram a vir de 10 em 10 min. Elas eram chatas, mas não eram doloridas a ponto de me deixar ‘assustada’. Por precaução, por orientação da nossa obstetra, passamos no consultório para ver se estava tudo bem, para que assim ficássemos tranquilos.

Fomos avaliados e estava tudo certo, tão certo que ficamos surpresos com o toque que constatou somente 1 cm de dilatação (segundo o médico que me acompanhava em Pato Branco, com menos de 29 semanas, eu estava com 2cm). Fiquei pensando se tive regressão de colo, ou se tive – anteriormente- uma avaliação equivocada . Enfim … estava tudo mais que certo, para aquele momento. Nos foi recomendado mais uma semana de descanso e repouso e depois já poderíamos ‘saracotear’ e deixar o bebê vir (se fosse da vontade DELE, claro).  

Como fomos para Florianópolis alguns dias antes do previsto, precisamos ficar em um segundo (no caso primeiro) apartamento. Então imaginem a aventura e a função! Alugar apartamento em época de temporada, definitivamente, não é uma tarefa fácil e tampouco barata.

Tudo aquilo parecia – e era- muita loucura. O “casal de loucos que não têm mais o que inventar”. De fato quem pensava assim não estava de um tudo errado (risos). Éramos um casal fora do “script convencional” que estava, temporariamente, ‘mudando de cidade’ para ter um bebê.

Uma viagem de 45 dias, uma espera em que sabíamos apenas a data de retorno para casa, digo … nem isso! Se o Theo resolvesse ficar no aconchego do útero para além das 40 semanas, nem a data de volta era certa.

Não havia ‘previsão do tempo’ para o amanhã, não sabíamos quando o bebê viria, não sabíamos se ele nasceria ainda no primeiro apartamento -improvável na minha concepção, mas possível pensando no contexto- ou se o número de dias de aluguel seria suficiente. O fato é que não tínhamos controle sobre nada. Só tínhamos a certeza de que tudo iria dar certo.

Chegamos nas 36 semanas e ‘ganhei alta’. Agora poderia aproveitar os últimos dias ‘de férias’ e passear na praia, na cidade e na floresta (risos) e pular a vontade, o quanto quisesse e tivesse disposição.

A barriga a esta altura já estava bem grandinha, então por mais que tivesse vontade, não havia tanta disposição física e se me mantinha ativa, as contrações que nunca me abandonaram, vinham cada vez mais doloridas e chatas (tipo aquela dor de cabeça que não passa nunca, você até ‘acostuma’ mas ela sempre atrapalha). Hoje eu sei que a dor que eu sentia não era muito significativa se comparado ao que viria a sentir durante o trabalho de parto, mas era incomoda o suficiente para me fazer parar diversas vezes durante uma caminhada, por exemplo.

Com 37 semanas já estávamos no apartamento que ficaríamos até o dia 05 de janeiro de 2013. Esse apartamento ficava ao lado do hospital Ilha e Maternidade, onde havíamos programado o parto, um verdadeiro achado!

Junto das 37 semanas vieram os pródromos mais intensos. Ora eu estava bem, ora achava que podia engrenar um trabalho de parto. Eu já nem “cronometrava” as contrações, pois mesmo não tendo passado por um trabalho de parto, sabia que trabalho de parto ativo aquilo não era.

Não queria criar expectativas e ficar tensa em vão, então busquei curtir aqueles últimos instantes de barrigão e da história que estávamos construindo com aquela vivência.

Como nem tudo são flores -se não perde a graça- comecei a inchar ( muitoooo edema! perdi todos os calçados e ganhei muito peso), ter dor de cabeça e me sentir mais fadigada que o comum. Em consulta suspeitou-se de pré-eclâmpsia (estava com quase 38 semanas de gestação) e essa suspeita me levou à coleta de exames laboratoriais, que acabaram confirmando que de fato as coisas não estavam 100%.

Diante do resultado, e do meu estado, a Dra. sugeriu que fizéssemos um descolamento de membranas para estimular o trabalho de parto e perguntou se eu tinha conhecimento sobre o procedimento (ela sabia que eu tinha lido ‘tudo’ e mais um pouco). Respondi que sim e que já imaginava que ela iria sugeri-lo. Aliás, antes de ir ao consultório já disse ao marido que achava que ela iria nos propor isto.

Vejam … na assistência humanizada o médico não “impõe” um procedimento sem antes discutir com seu paciente, sem explicar sobre os benefícios, sobre os riscos e dar sua opinião clínica sobre a situação. E como aquele procedimento visava oportunizar que eu entrasse de forma natural em trabalho de parto, eu mais que permiti. Afinal, tudo o que eu não desejava era parar numa mesa cirúrgica e passar por uma cesárea de emergência. Além disso, depois de tudo o que passei para chegar até lá, toparia qualquer coisa que me levasse para mais próximo do sonhado parto.

A obstetra me explicou sobre o procedimento e disse que seria como um toque, porém mais dolorido. Lá fomos. O que foi AQUILO?! Foi tenso! Doeu muito. Eu gemi só um tanto! (risos) A Rox só dizia: pode gritar… dói mesmo! Eu só ouvia os ‘trec trec’, devo ter ficado azul. Juro! Não tinha o que fazer nem pra onde correr … Só ouvia ela dizer: Só mais um pouquinho, estamos indo muito bem. E fomos mesmo! Parece que descolou as membranas e todo meu cérebro junto (risos). No fim ela disse: consegui descolar bem, já que você estava com 2 de dilatação! Assim que me disse isso olhou para minha cara e afirmou: Acho que você percebeu né?! Devo ter descolado até seu cérebro rsrsrsrs (exatamente o que eu queria dizer!) A Rox foi maravilhosa! Foi uma linda e me fez abrir um sorriso, quando minha vontade era chorar, brigar, ou sei lá o que, menos sorrir. Disse-me que o que senti era muito pior do que sentiria quando entrasse em Trabalho de Parto. UFAAAA … menos mal, pensei.

Sai do consultório com cólicas e com um leve sangramento. Além disso, saí com esperanças que um TP pudesse, ENFIM, engrenar e aqueles pródromos infernais me abandonassem de vez. Aproveitamos e fomos caminhar no Shopping … Precisávamos dar uma ‘ajudinha’ para a mãe natureza. Caminhamos, caminhamos, pausamos, pausamos… as contrações e as cólicas não colaboravam para um caminhar sem pausas e sem “caretas” hehehehehe. O incomodo que sentia era prazeroso, era TUDO o que eu queria, estava Feliz. Muito Feliz por sinal! Meu corpo estava trabalhando. Não posso negar que a preocupação e a ansiedade estavam presentes, porque estavam. Eu sabia que nem sempre o descolamento surtia um efeito positivo, mas a esta altura do campeonato nosso sobrenome já se chamava esperança, então não nos custava sonhar.

Retornamos ao apartamento, nos alimentamos, explicamos pela milionésima vez a Naiara (que estava quase parindo por mim de ansiosa) que o mano podia vir logo, mas ainda não tínhamos a precisão de quando. Jantamos, tomamos vinho, tomei um banho quente, namoramos **os três hots para ‘estimular’ o TP** e eu perdi o Tampão.

Perdi o TAMPÃO!!! Só quem espera por um trabalho de parto sabe o significado de perder e conhecer o famoso Tampão gelatinoso. Fomos dormir com expectativa de que a noite, talvez, eu pudesse entrar em trabalho de parto ativo. Doce ilusão. Era fim do dia 17 de dezembro, terça-feira.

Na quarta, dia 18, acordei me sentindo estranha. Estranha porque não sentia NADA. Tudo havia sumido, não tinha cólica, não tinha dor, não tinha contração. CADÊ minhas contrações??? Há semanas com pródromos e quando eu achei que ia entrar em trabalho de parto, não senti mais NADA. Falei pro marido: Pronto, acho que podemos pensar onde iremos nos enfiar depois do dia 05 de janeiro, porque daqui de dentro este guri não parece querer sair tão cedo.

Eu, que havia passado os últimos dias fazendo fiasco na piscina e no parque do condomínio fazendo agachamentos, ficando quase de ponta cabeça de raiva daquelas contrações que não me largavam e também não engrenavam, estava bela e formosa sem NADA depois de ter quase o cérebro descolado num procedimento que me ‘prometia’ estimular o trabalho de parto. Como assim??!!

Tá, mas quem foi que disse ou em que momento eu tive a audácia de pensar que tinha controle sobre algo?? Coloquei minha expectativa no bolso e vi que mesmo não querendo estava ‘iludida’, ansiosa e cansada.

Depois de ‘decepcionada’ e sem compreensão do que se passava, abraçamos a ideia como um presente. Fizemos um monte de coisas: fomos à praia, ao shopping, fomos e fomos! Eu estava me sentindo ÓTIMA. Na volta para casa ‘mergulhamos’ na piscina do condomínio. Tive um caso de amor com aquela piscina! Lá era o único lugar que me proporcionava leveza e me ‘murchava’ um pouco. Pois nem calçado eu tinha mais, nada entrava nos meus pés de tão inchados que eles estavam. Era eu, um edema em pessoa.

Foi na piscina, e naquele dia, que conversei com o Theo. Tentei me conectar a ele e senti que ele se conectava comigo também. Foi muito ‘estranho’ e muito bom. Até aquele dia acho que ainda não estávamos prontos um para o outro. E ali, na água, enquanto eu andava de um lado para outro e o Theo fazia malabarismo na minha barriga, enfim nos conectamos.

A noite chegou, tomamos banho e jantamos. Depois do jantar, quase indo para a cama, como de costume, fui passar as novidades para algumas pessoas que estavam tão ansiosos quanto eu. Foi quando alguém muito especial me disse: Lu, tens certeza que você falou tudo o que precisava falar para ele (o Theo)?? Me questionou se eu de fato estava conectada e tudo estava ‘certo’.
  ***Parece coisa de gente maluca né??! Mas grávidas são malucas, mães são malucas!*** Respondi que sim. Que achava que hoje (dia 18 de dezembro de 2013), enfim, tinha me conectado à ele. Ela insistiu: e o Diego, a Nai já pediram para o ele vir?? E continuou… Eu fiz uma cartinha para o meu (me mandou uma foto do cartaz carta rsrsrs) e insistiu mais uma vez: façam algo vocês 4 em grupo, talvez seja o que está faltando.
Bom, o que eu tinha a perder?! E também ela (minha amiga/confidente/parceira) falando daquele jeito parecia que lia minhas angústias mesmo que virtualmente  **pausa para secar as lágrimas!**. Saí do bate-papo e comecei a escrever uma carta no Ipad mesmo. Que é esta que se segue entre aspas.

Carta escrita para meu bebê no dia 18 de dezembro às 23:00

“Para Theo 

Meu pequeno bebê a mamãe por muito tempo pediu para você ficar guardadinho aqui dentro da mamãe porque você resolveu querer vir antes do tempo e a mamãe levou um susto muito, muito grande! 
Não estávamos preparados para te receber e você também não estava pronto! Seu pulmãozinho ainda não era capaz de respirar aqui fora e você corria risco de vida e a gente queria você bem e por isso você não podia nascer! 
A mamãe pediu tanto para você ficar ai, deixou tua vida nas mãos de Deus e pediu que em nome de Jesus, seu filho, você continuasse a crescer dentro da mamãe e só viesse quando já estivesse bem grande e forte! Deus foi muito bondoso e mesmo contra todas as crenças ele deixou você ai dentro da sua casinha. Foram dias difíceis, de angústia e espera… Mas nós conseguimos!  
Acontece que a mamãe pediu tanto… tanto que você ficasse, que esqueceu como te chamar para nascer!  E quando você já estava pronto a mamãe ainda não tinha lhe chamado! A Mamãe ficou perdida e também com medo, não sei de que ao certo, mas uma coisa é certa a mamãe ama tanto sua irmã e se apegou tanto a ela, ainda mais quando pensou que algo ruim podia acontecer contigo. Foi tua irmã que deu toda a força e paciência que a mamãe precisava para se manter firme na tua espera e com fé que tudo daria certo.
Ela foi tão essencial que você passou a viver aqui fora com ela… A mamãe a amou mais do que já amava… Porque acho que amava ela e você na mesma pessoinha! E agora que você já pode nascer e se tornar material, tocável e vir para o colo da mamãe… A mamãe já não sabia como fazer, não sabia porque você já vivia aqui fora… aqui, junto da maninha! Você me entende?! Me perdoa amor? Perdoa a mamãe, perdoa por não ter conversado contigo o tanto que você precisava. 
A mamãe fez isso algumas vezes, foram muitas até… Mas acho que não foi o suficiente. Nossa ligação ficou prejudicada, prejudicada pelo medo. Medo de te chamar muito e você vir antes e eu queria você ai dentro, então te deixei quietinho, crescendo nas mãos de Deus! 
Mas agora bebê você pode nascer! Já está grande, forte e bem! A mamãe quer você aqui fora! A maninha já está tristonha porque lhe chama todos os dias e você não vem conhecer ela. Ela te ama muito e te espera ansiosa, com muito amor e carinho porque ela é um doce de criança, você vai amar ser maninho dela, tenho certeza! Então vêm bebê! O Papai também está ansioso para enfim conhecer seu Guri! Ele tá até nervoso, sabia?! Neste tempo em que você nos assustou ele teve que assumir mais compromissos e até está meio atordoado e precisa de você aqui fora para se achar de novo… Então vem bebê. 
A mamãe quer te dar mamazinho… Seu Tetê está prontinho e cheio de leite te esperando. Os braços da mamãe querem te segurar no colinho, quero te beijar, te dar um cheirinho bem gostoso! 
Vem bebê! Estamos te esperando… E vem logo tá… Te quero aqui até o final do dia 20 porque queremos tirar fotinho do teu nascimento para lhe mostrar depois e também para recordar este dia tão especial! E também porque está na hora de você vir… Então vem meu Anjo… Meu anjo Theo! 

Te amo, Mamãe.

Depois, convidei a Nai e o Di para cantar uma música para o Theo e imaginar ele conosco. Eles toparam minha maluquice e lá fomos. A Nai escolheu a música “meu ursinho pimpão” pegou um boneco no colo e ao som da música cantamos e embalamos o Theo mentalmente (TODO mundo louco… louco de amor ). A Canção:

      Ursinho Pimpão
“ Vem meu ursinho querido
Meu companheirinho
Ursinho Pimpão

Vamos sonhar aventuras
Voar nas alturas
Da imaginação

Como na história em quadrinhos
Eu sou a Sininho
Você Peter Pan

Vamos fazer nossa festa
Brincar na floresta
Ursinho Tarzã

Enquanto o sono não vem
Eu sou Chapeuzinho
Você meu galã

Vamos deixar o cansaço
Dormir num abraço
Meu velho amigão

Não fique triste zangado
Se eu viro de lado
E te jogo no chão

Ah! Meu ursinho palhaço
Seu circo é um pedaço
Do meu coração …”

Cantamos, nos ‘despedimos’ e fomos dormir. Assim terminou o nosso dia.

Na madrugada, dia 19 de dezembro, tenho um sonho maluco que o Theo tá nascendo e na hora em que sua cabeça saiu (senti dor e tudo! Juro! rsrsrsrs), no impulso, coloquei a mão no meio das pernas e disse em bom tom: Estourou a bolsa! Kkkkkkk Não tem como não rir lembrando a cena, que aliás, nunca esquecerei! Que bolsa que nada, pensei em seguida, era sonho mesmo! Bom, pera aí… minha calcinha estava molhada… pouco, mas estava. Levantei e não me escorreu nada pelas pernas. Senti que minha bexiga estava cheia e conclui: me mijei! Afffff … que legal. Fui ao banheiro, retornei para a cama desapontada e rindo da própria ‘desgraça’. Tentei dormir…. mas quem diz que dorme.

Logo amanheceu e contei a proeza ao marido, que não tinha percebido nada e continuou dormindo até aquele momento. Ele deu risada e eu só disse: Pode rir! Era tudo o que me faltava, agora estou me mijando. Dei risada também. O que eu poderia fazer?! O jeito era rir para não perder a própria piada.
Como todo dia podia ser o último dia com o Theo na barriga e eu estava bem, resolvemos ir almoçar na beira da Lagoa da Conceição, lá fomos empanturrar-se de camarão. Eu, como estava me mijando, fui de absorvente. Bem faceira rsrsrsrs.

Depois de muitas idas e vindas ao banheiro o nosso almoço chegou. Sim … desde a ocorrência do meu sonho senti muita vontade de ir ao banheiro pois estava escapando xixi. Já ‘almoçados’, nada melhor a fazer que não fosse se despedir do restaurante indo ao banheiro novamente, claro.

Já era umas 14 horas, e a esta altura eu já estava encucada com aquilo, pois chegava no banheiro e não tinha mais xixi. Sentava no vaso e cadê o xixi … chegava na mesa, sentava e vazava xixi. Que coisa?! Uma incontinência urinária no mínimo intrigante.  Parecia menstruação, eu não tinha controle de quando ‘liberar’ ou segurar o dito do xixi. Aí, nessa última ida ao banheiro, eu resolvi fazer um teste (tinha passado por ele no consultório quando falei que estava ‘perdendo’ líquidos) para ver se não era a famosa “Bolsa das águas” que tinha rompido e não um xixi. Eis que para minha surpresa quando tossi forte, saltou um jato! Opsssssss… o que é isso?! Tossi de novo… mais um jato! Meus olhos cresceram e eu pensei: É a BOLSA.

Saí do banheiro meio atordoada e vi que o marido tinha acabado de pagar a conta e se dirigia até o cafezinho. Cheguei de mansinho e disse: Amor, vamos logo, minha bolsa estourou! Não era xixi, é a bolsa. Ele: Sim amor,só um pouco… vou tomar um café! Jesussssss, pensei. Tentei, novamente, transmitir o recado: Amorrrrrr… você escutou o que eu disse?! A Bolsa rompeu! Daqui a pouco me escorre líquido pelas pernas!! VAMOSSSS. Ele: Hãnn?? A Bolsa? Eu: Simmm, a Bolsa!

Foi pra já que esqueceu do café. Saímos pé, por pé. Eu sentia que a coisa iria vir a qualquer instante e eu estava no MEIO do restaurante. Atravessamos a rua e no momento que subi no carro e sentei …. só senti que molhou TUDO. Só consegui dizer: A bolsa! Kkkkkk

Liguei para a Cris (doula) e disse: Crissssssss estourou a bolsa!… Pensa no meu entusiasmo! Agora sim, sabíamos que em breve ele viria. E o dia 05 de janeiro seria mesmo o dia que voltaríamos para Pato Branco. Amém.

A Cris com toda paciência e voz doce, disse: Que ótimo, Lu! Já ligou para Rox?? Eu: Não liguei, mas tenho consulta hoje as 16hrs (já tínhamos passado das 14hrs neste momento). Foi então que a Cris me orientou a ir direto para o consultório e conversar com a médica.

Cheguei ao consultório cheia de expectativas e fui afoita conversar com a secretária, e antes mesmo que pedisse se podia adiantar minha consulta, fui informada que todas as consultas seriam adiadas porque a Roxana foi solicitada para um Parto de Emergência no Hospital Universitário onde era docente.

Expliquei minha situação e então me orientaram ir ao encontro da médica.

Chegando na recepção do HU enquanto eu contava minha história e tentava descobrir onde estava minha médica… perdi uns 3 litros de líquido hehehehehe… (uma situação um tanto inusitada para mim). Estava, eu, relativamente tranquila. Tranquilidade percebida pelas secretárias enfatizaram: Nossa como você está calma! Eu só respondi: Pois é! Mas ficar nervosa não vai ajudar né rsrsrsrsrs.

Médica rastreada, fomos ao seu encontro. Ficamos na sala espera, numa espera sem fim…. Comecei a ficar incomodada com os comentários dos outros pacientes e também com o atendimento de alguns profissionais. Achei que não precisava passar pelo constrangimento que estava passando e em conjunto com a Cris, que me dava todo o apoio e assistência pelo telefone, decidimos ir para casa.

Eu me sentia bem e aquela situação estava me deixando muito nervosa. Fomos para casa, tomei um banho e fiquei de boa. Em seguida a Cris me ligou e disse que a Rox queria me ver às 18:00 em seu consultório. E assim foi.

Dali em diante ficamos (eu, Cris, marido) trocando mensagens. Às 18:00 já estávamos na sala de espera do consultório quando a Cris me mandou uma mensagem pedindo da dor. Eu respondi que estava tranquilo, estava com contração de 10 em 10 minutos e elas eram leves. Ela pediu para graduar de 0 a 10. Respondi prontamente: 5! Estava me sentindo super forte, resistente a dor (como isso me faz rir hoje).

Tinha concepção por tudo que tinha lido que eu não estava em trabalho de parto ativo. Hoje vejo que pensando no 10 eu deveria ter dito 3 kkkkk.

A CONSULTA- Como estava com bolsa rota a Rox não fez toque (**Explico o porquê: porque depois do toque precisa se considerar uma contaminação/infecção ‘eminente’ pois a barreira que protege o bebê do meio externo não esta mais íntegra**) ela apenas observou as contrações e auscultou o coração. Lembro nitidamente dela me dizendo: Este bebê leu os livros de obstetrícia, tudo dentro do padrão. Esta tudo ÓTIMO! TUDO certo.

Era só aquilo que eu precisava ouvir: “Tá tudo certo” . Conversamos mais um pouco e ela me disse que tinha vontade de conduzir o parto (ir para o hospital, internar… colocar soro e tals) já que meu histórico dos últimos dias não era dos mais lindos e naquele momento ainda tínhamos uma bolsa rota. Mas… Ela sabia que eu estava cansada e achava que o melhor naquele momento era DESCANSAR já que estava tudo dentro do esperado.

Após a consulta.
Com bolsa rota há mais de 10 horas.

Ouvi tudo com atenção e então disse que estava tranquila/descansada já que o descolamento de membranas ao invés de estimular as contrações, tinha acabado com elas … e assim eu tinha dormido a noite TODA. Bom, disse ela, você quem decide! O que você acha melhor??
Ela estava cansada (tinha passado a noite em outro trabalho de parto) e eu estava bem. Optamos por ir para casa e aguardar o trabalho de parto ativo naturalmente e se ele não viesse, nos encontraríamos no hospital pela manhã.

E o trabalho de parto veio! Antes das 7 da manhã eu já não conseguia fazer mais nada durante as contrações. Tomei banho e elas só intensificaram. Não consegui comer, mal mordi uma torrada e tomei um gole de chá. Demorou a passar aquelas duas horas. Abracei-me a uma almofada e durante as contrações me agachava no sofá e apertava a almofada. Estava com contrações de 4 em 4 min.

Às 9 horas nos encaminhamos para o hospital. Nos encontramos com a Roxana ainda no estacionamento. Que Lindo! Aquele era o dia que conheceria nosso THEO! No dia 20 de dezembro!

Enquanto o marido preenchia as papeladas na recepção, eu enfiava minha cara com toda força do mundo na almofada, minha companheira de TP. Minha vontade era sair correndo, mas não dava. Ali, na recepção, todo mundo me olhava, uns com fisionomia de pena, outros claramente assustados.

Foi bem divertido olhar a cara das pessoas (isso no intervalo das contrações… claro!). Porque durante, eu só enfiava a cara na almofada e ficava de joelhos no chão (risos).

Fomos chamados para a consulta, fui examinada era umas 9:40, eu estava com 5 cm de dilatação! CINCO! Metade do caminho. Nada mal!

Era uma manhã quente, e as contrações aumentavam ainda mais minha percepção do calor. Desejei muito um chuveiro! Mas o hospital estava LOTADO. Véspera de feriados e numa sexta-feira… todas as cesáreas eletivas tinham acontecido naquele dia ou no dia anterior  e a sala de parto estava sendo limpa, pois alguém tinha acabado de parir.

A doula mais linda do mundo.

Papeladas encaminhadas, internação solicitada pela médica, só nos restava aguardar a sala ficar pronta. A médica pediu se podia ir até o Hospital Universitário e me disse que a Cris estava quase chegando. Claro que disse que podia ir. O que ela podia fazer por mim, já tinha feito, sabia que o ‘andar da carruagem’ dependia exclusivamente do meu corpo.  De resto eu estava bem amparada. Sugeriu, então, que eu aproveitasse e caminhasse no estacionamento. E assim foi. Eu a Naiara e o marido caminhando estilo manada pelo estacionamento. Quando vinham as contrações eu logo procurava um apoio e agachava, a Nai agachava junto e o Diego dava suporte físico quando necessário. Vivemos o trabalho de parto em em equipe!

A Cris chegou e trouxe a mansidão junto de si (a tranquilidade que só uma boa Doula sabe transmitir) então conversamos e rimos nos intervalos das contrações. E durante as contrações ela já me aliviava com massagens na lombar. Nessa fase já estava com contrações já estavam de 3 em 3.

Parecia que logo logo estaríamos com nosso Theo.

Era passado das 11 horas da manhã quando a sala de parto foi liberada.

Nosso sonho estava se concretizando! Agora eu tinha a banheira e todo o ambiente daquela foto/imagem que me mobilizou na busca de um parto respeitoso. Estava em trabalho de parto e achava que já estava com pelo menos uns 6 de dilatação, eu vivia aquilo tudo com entrega e felicidade.

Assim que entrei no quarto fui arrancando a roupa e me enfiando no chuveiro e ali fiquei. Nem sei por quanto tempo, só sei que foi tempo suficiente para entrar em um processo profundo de introspecção. Fui perdendo a noção das coisas na medida que a dor intensificava.

A Cris preparou a banheira e me convidou a usá-la. Qualquer sugestão a esta altura é quase que prontamente aceita, o racional se perde e tudo fica meio bagunçado mentalmente. Depois que tudo acaba a gente percebe o quanto é fundamental ter apoio contínuo e o quanto “um guia” pode nos auxiliar. O silêncio é outro aliado muito importante.

Entrei na sonhada banheira e depois de alguns desequilíbrios dei um jeito de me acomodar.  A água quente ajudou muito no aliviar a dor. Ajudou tanto que as contrações começaram a espaçar…. Divaguei nos pensamentos por lá (risos). 

Roxana praticando o verdadeiro Obstare. Obrigada!

Como as contrações espaçaram (acho que já era umas 14:00 hrs), a Cris me pediu para sair da banheira para caminhar e movimentar o corpo. Assim que sai, as contrações retornaram ainda mais intensas.
Eram 15 horas, ou seja, umas 6 horas depois do toque em que eu estava com 5 cm de dilatação, pedi que a Roxana me fizesse um novo toque.

Eu estava desnorteada. Estava me sentindo estranha porque o padrão da dor que sentia, tinha mudado. Estava imensa e diferente. Doía o tempo todo. Uma dor sem intervalo e eu sentia que o Theo ao invés de descer, parecia subir.

Apesar de me darem apoio dizendo que estava tudo bem e tudo estava certo, eu balançava a cabeça e dizia que ele não estava descendo!

Comecei a ficar preocupada com a cicatriz da cesárea. Será que era a bendita cicatriz?? Será que o que eu estava sentindo significava um possível sinal de ruptura uterina? E aí que o lado Veterinária, que me acompanhou desde sempre, me deixou ainda mais alerta.

A Rox fez o toque e para minha desagradável surpresa 7 cm. Seis HORAS para dilatar 2 cm. Só.

Eu sabia que podia demorar, mas toda aquela dor e sem intervalo eu esperava no mínimo 9 cm.

Ali bateu -de vez- o desespero. Desespero que eu tentava guardar para mim. Eu realmente não estava compreendendo o que acontecia e tinha certeza que havia algo errado. A Rox deve ter percebido que me desestabilizei e sugeriu a analgesia. Eu temia a analgesia porque tinha lido vários relatos em que houve bradicardia e o desfecho foi uma cesárea por sofrimento fetal, então seria algo que eu só faria se realmente fosse necessário.

Definitivamente não queria uma cesárea, e queria diminuir todo e qualquer fator que contribuísse para uma. Neguei o pedido/opção.

Assim que a Rox saiu do quarto me debrucei sobre o ombro da Cris e disse o porquê não queria. Ela toda carinhosa disse: Lu, você acha que vai dar sem?? Seu corpo como tá?? Eu respondi exatamente aquilo que sentia. Que achava que o corpo não estava colaborando e que durante a contração parecia que o bebê subia e não havia intervalo só dor e dor. Ela abraçada em mim disse: Lu, a Rox não dá a opção em vão. Você precisa! A anestesia pode te ajudar. Nem sempre ela faz mal, podes ser o caminho para você.

Eu não tinha mais para onde ‘correr’ estava exausta e com medo. Medo, especialmente, que pudesse ser sinal de uma ruptura uterina. Aceitei a analgesia e em poucos minutos a Rox me encaminhou para o centro cirúrgico.

A Cris me acompanhou o tempo todo e seu carinho foi fundamental para que eu me sentisse acolhida e segura.

Diferente da experiência sofrida na anestesia da Nai, me senti respeitada.

O anestesista foi compreensivo e aguardou a minha permissão para que a analgesia fosse aplicada. Eu não conseguia ficar parada durante a contração. Ele respeitoso aguardou meu OK.

Abraçada na Cris eu continuava lamentando … era algo que não estava nos meus planos, nem no meu script de “modelo de parto desejado”. Além disso, repetia aquilo que um dia li em um relato no blog dela: CRIS, parece que vou morrer! Kkkkkk **Estava eu na famosa fase de transição**.

A Cris abraçada em mim dizia: Não vai não, LU! Vai dar tudo certo! Quanto carinho e atenção. Nunca esquecerei dos seus carinhos naquele momento, tão calorosos e afetivos.

Assim que a analgesia foi feita e eu relaxei, descobrimos o que acontecia. Minha bexiga estava ‘explodindo’ de cheia. Só ouvi a Roxana expressar: ela estava com a bexiga cheia! Me passou uma sonda uretral e parte do problema tínhamos resolvido. Ficamos por lá alguns minutos curtindo um cardiotoco maluco e logo que estabilizou, voltamos para o quarto. Agora já estava com mais de 8 de dilatação.

Já no quarto, foi feito o apagamento do colo com os dedos. Para ‘acelerar’ o processo, já que o Theo dava sinais de estar ficando cansado daquela bagunça toda. 

Atingimos a dilatação total. Desci da cama e a Rox nos falou: Hora de trabalhar!

Orientou-me a agachar quando viesse a contração e fazer força ‘de empurrar’. Aquela expressão ‘hora de trabalhar’ me soou como: A gente precisa dar uma força! Vamos ajudar este bebê descer. Não sei porque (na verdade sei!) eu sentia que a gente precisava ganhar tempo e fazer tudooo para trazer ele logo. **Meu lado veterinária não me deixava esquecer que eu tinha feito analgesia, estava recebendo ocitocina sintética via soro e sabia que aquela dupla podia ‘acabar’ com a nossa festa.**

Nesta hora chamamos o marido que estava fora do quarto para que ele pressionasse meu quadril durante as contrações, enquanto a Cris me dava apoio para agachar. O Diego, pelas costas, apertava meu quadril com a intensão de aliviar a dor e a tensão. Simmmmm, eu sentia dor. Mesmo com a Analgesia eu sentia dor! E ‘pior’, eu tinha perdido a noção do corpo – como e onde empurrar –, mais uma vez a Cris salvava a pátria orientando.

Assim fomos por um bom período. Até que a Cris e a Roxana começaram a monitorar a descida do Theo.

É interessante como o corpo ‘acostuma’ com a Dor e ela vira parte do processo. Interferências são péssimas! Aliviam no momento, mas é como droga, a gente precisa de mais depois. Eu lembro como a dor intensificou muito depois que o efeito da analgesia foi passando e falei que não sabia se iria suportar, pois a mente não teve tempo para processar o porquê tudo ‘agravou’ repentinamente.

Era possível usar mais uma dose de anestésico (eu tinha um cateter acessando minha medula) porém eu sabia o quanto ela iria me atrapalhar no expulsivo…

Então só expressei que não sabia se iria dar conta.

Tanto a Cris quanto a Roxana me deram liberdade para escolha, mas me lembraram do ‘não benefício’. Enfatizaram que eu estava no fim do processo e daria conta! Eu só pensei: Então vamos lá. Sou mais forte que isto. E fomos <3.

Marido dando apoio para que eu agachasse e a Cris e Rox observando meu pequeno descer. A esta altura eu já sentia meu corpo e seus pedidos. Lembro da Cris no intuito de estimular dizer: Lu, olha no espelho! Teu pequeno tá ali! Consegue ver?? E eu: Nãoooooo consigoooo (com os olhos fechados não tinha como ver mesmo! – risos-) mas tô sentindo TUDOOOO.

A Cris deu uma bela risada e disse: As respostas dela são ótimas! (risos).

Sentia mesmo! Sentia queimando, meu corpo se abrindo, o Theo descendo!

Devagar, mas descia. E eu só queria empurrar. Quanto mais empurrava, mais queria!

O pequeno Theo já coroava quando chamaram o anestesista e o pediatra. Tudo o que mais queria era tirar aqueles trecos pendurados no meu braço e nas minhas costas! “Chamaaaaa o anestesistaaaa”

Livre das parafernalhas, entrei na banheira e ali o tempo PAROU. Eu estava realizando meu sonho.

Foi tudo muito rápido. Entrei na banheira e logo depois de uma contração senti a cabeça do Theo saindo.

Passei a mão naqueles cabelos macios em movimentos ondulantes entre meio meus dedos e ALI o mundo podia acabar. Eu me sentia REALIZADA. Uma onda gigante de amor e emoção tomou conta do meu ser!

Aquilo que eu sentia, não cabia nem no peito nem em lugar algum! Foi transcendente! Foi inexplicável! Foi TUDO! Foi TUDO o que eu precisava para renascer.

Em seguida, nascia o Theo. Pescado por mim! Por minhas mãos ele vinha de dentro do meu útero para o meu colo.

E ALI ele era meu. Só meu! Como sempre foi. Ali eu renascia. Eu lavava minha alma. Foi Ali que encontrei o sentido e a necessidade de PARIR. 

Parir é um verdadeiro portal, para mim foi muito importante passar por ele. Percebo que se ignoramos esta fase, o que vêm pela frente fica desconexo. 

Parir é, sem dúvidas, uma grande oportunidade para assimilar uma nova realidade. O lugar no tempo e espaço, em que o bebê da barriga ‘morre’ junto daquela mãe grávida, para que então nasça um bebê de colo e uma mãe de fato.

Parir é um portal de amor, de vida.

Parir nos permite acessar uma conexão física de grandeza visceral … com aquele ser.

Ali parindo a gente morre e dá a vida. Se vive o deixar ir, para poder estar. É a concretização do processo. Um sentir muito intenso! Muito maior que se descobrir gestante, que se permitir gestar e esperar, é de fato dar a luz, a vida.

Uma mulher recém-parida é uma nova mulher.

Com mais força, mais capaz, com prazer, com alegria e com uma intensa necessidade de dar amor, cuidados e proteção.

No momento em que sentimos a cria nos braços, toda dor desaparece … acaba … se torna um detalhe vivido e não mais sentido.

Toda espera se transforma em amor. Ficamos enamoradas. Este é o segredo.

É o segredo do vínculo e da força para enfrentar as dificuldades do puerpério e da maternidade que ainda virão.

Foi isto que me faltou no nascimento da Naiara.

Não há mágica, há viver.

Pular a ‘etapa parto’ por medo de sofrer é um erro, um equívoco, uma ilusão.

Temos medo da dor e esquecemos do amor! Seria sábio perceber que a dor desaparece o amor permanece.

Talvez seja esse o motivo pelo qual quem vive um parto respeitoso vai querer parir novamente, vai querer que outras mulheres vivam esta intensidade de sentimentos… que viva a explosão de ser mulher e mãe.

Só por isto.  

Foi Assim que Nasceu Theo. Foi assim, que Renasci. 

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